Gerard Piqué ocupa lugar de destaque em qualquer lista dos melhores jogadores de defesa da atualidade. O elegante camisa 3 do Barcelona conseguiu combinar força, inteligência e habilidade para transformar-se em um dos zagueiros mais completos dos últimos anos.
Ganhador de tudo quanto é título com a equipe azul-grená, e eleito pela segunda vez consecutiva para a Seleção Mundial da FIFA/FIFPro, Piqué conversou com o FIFA.com sobre o extraordinário momento e os desafios pela frente em nível individual e coletivo.
FIFA.com: Como se sente por fazer parte da seleção do mundo?
Gerard Piqué: É um orgulho estar ao lado dos melhores do mundo. Mais ainda porque os onze jogadores foram eleitos pelos próprios colegas, que são quem mais entende.
O prêmio foi a conclusão de um ano incrível, em que você ganhou quase tudo com o Barcelona. Qual foi o segredo dos sucessos?
Pep Guardiola. Desde que ele chegou ao clube, o que nos mantém no patamar mais alto é a forma como ele nos motiva e enxerga o futebol. No ano passado ganhamos quase tudo, o que me enche de orgulho e satisfação, até porque estou em casa, no clube onde nasci e pelo qual sempre torci.
Falando de Guardiola, poderia nos explicar um pouco mais o que faz dele um treinador especial?
Ele vê o futebol melhor do que ninguém, e ainda explica melhor do que ninguém. Muitos técnicos dizem para se movimentar pela direita ou pela esquerda, mas ele dá os motivos e faz com que a gente entenda claramente o porquê. Sem que a gente se dê conta, cada dia aprendemos mais e começamos a tomar as próprias decisões dentro de campo. E então vem a motivação que ele nos dá. Muitas equipes meio que perderam a fome de vitória depois de muitos títulos. No nosso caso, a fome é cada vez maior. Queremos voltar a sentir o prazer e a sensação de ser os melhores. O Pep não nos deixa relaxar demais e está sempre atrás de nós para que possamos dar tudo.
O próprio Guardiola nos falou sobre a importância de tratar os jogadores como adultos e responsabilizá-los pelo que fazem...
Ele nos faz sentir como profissionais. Parece nos dar mais liberdade, mas na verdade o que ele nos dá é poder de decisão. É como se dissesse: 'Quer mesmo estar entre os maiores e ganhar muitos títulos? Depende de você. Pode voltar para casa na véspera do jogo, fazer o que quiser, mas você sabe que, se não fizer as coisas direito, não vai jogar no dia seguinte.' Deste modo, amadurecemos muito mais. É como se devêssemos algo a ele, o que faz com que a gente precise render bem em campo.
Chama a atenção o fato de que este Barcelona conseguiu render o máximo nas partidas decisivas, como contra o Manchester United ou nos clássicos contra o Real Madrid...
Contra o Manchester, na minha opinião fizemos uma partida brilhante. Não apenas uma das melhores de que participei, mas também uma das melhores que já vi. Não foi só o resultado, mas a forma como atuamos, jogando bem, dominando a partida, criando chances. Uma final costuma ser muito nervosa, com as duas equipes tentando buscar um gol para depois segurar o 1 a 0. Contra o Real acontece o mesmo. Como já estamos acostumados a jogar tantas partidas como se fossem finais, a equipe sabe render nesses grandes momentos, e são essas as pequenas diferenças entre ganhar e não ganhar um título.
Nesta temporada, o Barcelona passou a usar três zagueiros. Quando surgiu a ideia e como ela foi desenvolvida?
Foi mais ou menos na pré-temporada. O professor resolveu assim porque achou que éramos previsíveis demais, todo mundo nos conhecia e se fechava atrás quando nos enfrentava. A ideia do 3-4-3 é ser mais ofensivo, ter a posse de bola por mais tempo e criar mais chances de gol. Começamos a trabalhar na pré-temporada. Durante a temporada foi necessário ganhar confiança, porque não é um sistema fácil.
Especialmente para um zagueiro...
É necessário correr muito mais. No fim dos jogos, noto que estou mais cansado porque há mais ataques e é necessário cobrir as laterais. É mais desgastante para os zagueiros. Mas tem sido muito bom para mim no aspecto individual, porque me deu versatilidade.
Você já teve o privilégio de trabalhar com Guardiola e Alex Ferguson. Os dois são muito diferentes?
Sim. O Ferguson é um manager, muitos dias nem vai para o gramado, fica no escritório e atua em diversas funções dentro do clube. Acho que é mais como um pai, pelo menos assim foi comigo, quando cheguei lá com apenas 17 anos. Era um grande motivador. As palestras dele antes da partida eram sensacionais. O Guardiola passa o dia todo com os jogadores e depois assiste a dez horas de vídeos para nos oferecer algumas imagens dos adversários, de como atacá-los. Talvez a diferença esteja no tempo de carreira de cada um: o Pep está apenas começando, enquanto "Sir" Alex tem muito mais experiência.
Também há grandes diferenças quanto às funções do técnico na Espanha e na Inglaterra...
Sim, inclusive os bancos na Inglaterra são elevados e não têm proteção, fica todo mundo sentado praticamente ao lado do torcedor. As culturas são diferentes. O futebol também é diferente. Na Inglaterra tudo é muito passional, é uma festa: o clima é espetacular, o estádio está cheio, a torcida apoia sempre, mesmo na derrota. Na Espanha, culturalmente, é mais complicado, porque as pessoas ficam mais em casa, e os estádios só ficam cheios nos jogos mais importantes. Talvez nesse sentido sejamos um pouco mais frios, apoiemos menos, mas certamente somos mais exigentes.
O ano de 2011 foi excelente, mas 2012 começa com grandes desafios, já que o Real lidera o campeonato com boa vantagem. Quais são as suas reflexões?
Quando você ganha o que nós já ganhamos, acho que as coisas ficam mais complicadas, porque os rivais dão 110%. Para eles, conseguir nos derrotar é uma conquista. Além disso, o mundo inteiro vê as nossas partidas e as analisa. Por mais que a gente queira tentar coisas novas, mudar detalhes, o adversário sabe como jogamos, se posiciona atrás, tenta se defender com seis ou sete, especialmente quando jogamos fora de casa. No Camp Nou, o campo é bem maior, há muitos espaços, a torcida aperta e é mais fácil. Ultimamente também tem faltado sorte. Só o que podemos fazer é continuar trabalhando. Os triunfos chegarão e os títulos voltarão, não tenho dúvida.
Fonte: Fifa
Imagens: AFP
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