Faço aqui uma reprodução da matéria da Folha de São Paulo feita em 18 de junho de 2010.
Saiba tudo (ou quase) sobre o panorama político da Copa-14 e entenda por que o Morumbi foi excluído
1- Quantos estádios da Copa de 2014 serão bancados por verba pública?
Até o momento, nove. Nesses casos, haverá uso de verba do BNDES -até R$ 400 milhões- e o restante será bancado pelos governos estaduais e municipais.
2- Quais são os problemas técnicos do Morumbi?
O principal problema apontado pela Fifa e pelo Comitê 2014 está relacionado às falhas de visibilidade das arquibancadas.
3- Por que o São Paulo não eliminou os pontos cegos nos projetos que levou à Fifa?
Para eliminar totalmente os pontos cegos seriam necessárias intervenções profundas que acabariam onerando muito a reforma.
4- Que tipo de intervenções?
Rebaixamento do gramado e reconstrução dos anéis inferiores da arquibancada.
5- Em quanto aumentaria o custo da reforma?
No quarto projeto apresentado, que não previa eliminação de 100% dos pontos cegos, o custo era de cerca de R$ 350 milhões. No quinto projeto, aprovado pela Fifa para as semifinais, o orçamento saltou para R$ 630 milhões, valor suficiente para construir um novo estádio, com capacidade menor que a atual.
6- Por que o São Paulo não apresentou garantias financeiras para o projeto que agradou ao Comitê 2014?
Porque considerava economicamente inviável investir R$ 630 milhões na reforma, além de não ter conseguido parceiros privados suficientes para bancá-los.
7- Então foi esse motivo que levou o clube a apresentar um projeto final mais modesto?
Sim. O sexto e último projeto apresentado previa gastos de somente R$ 265 milhões, mas era inferior tecnicamente até mesmo ao quarto projeto. Não previa rebaixamento do gramado nem intervenção na arquibancada.
8- Por que o comitê não aprovou o último projeto?
O sexto documento nem sequer foi examinado. O presidente do comitê, Ricardo Teixeira, afirmou que o prazo de apresentação de projetos expirou. Mas, curiosamente, disse ainda estar disposto a avaliar novos projetos apresentados por São Paulo.
9- Com tantos problemas, a decisão de excluir o Morumbi foi somente técnica?
Não. O último projeto apresentado pelo São Paulo não corrigia os problemas de visibilidade. Mas na África do Sul-2010 e na Alemanha-2006, há exemplos de estádios com pontos cegos. Se a Fifa usasse o mesmo critério para o Brasil, não haveria motivo para excluir o Morumbi do Mundial-2014, apenas do jogo de abertura e de partidas importantes.
10- Então, quais são os motivos políticos que levaram à exclusão do estádio?
O principal deles está ligado ao péssimo relacionamento entre Ricardo Teixeira e o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio.
11- Por que Teixeira e Juvenal são rivais políticos?
Porque o presidente do São Paulo apoiou Fábio Koff na eleição do Clube dos 13, enquanto Teixeira apadrinhou a candidatura de Kléber Leite. Não foi mera coincidência os primeiros boatos de exclusão do Morumbi terem surgido logo após a derrota de Leite.
12- Por que a Fifa também criticou o Morumbi?
Porque trabalha em consonância com Teixeira, que é, inclusive, candidato à presidente da entidade em 2014, e a construção de uma arena na cidade atrai mais negócios e parceiros para a Fifa do que uma simples reforma.
13- E por que o governo paulista não constrói um estádio novo?
Diferentemente da maioria das sedes, São Paulo já tem vários estádios. Consumir dinheiro público em mais um significa encarar a resistência da opinião pública. A ausência de uma nova praça seria compensada pelo fato de a cidade possuir melhor infraestrutura para receber a abertura do que as rivais Belo Horizonte e Brasília.
14- Com o Morumbi vetado, São Paulo corre o risco de ficar fora da Copa de 2014?
Não. Teixeira garantiu anteontem que a cidade será sede e ainda aposta que realizará a abertura
15- Quais são as opções de São Paulo para receber o jogo de abertura?
A princípio, somente uma: o estádio de Pirituba. Mas, para viabilizá-lo, o comitê paulista busca parceiros privados que arquem com cerca de R$ 1 bilhão para construir uma nova arena para ao menos 65 mil pessoas.
16- E as outras alternativas?
Se abdicar da abertura, São Paulo ampliará seu leque de opções com estádios com capacidade inferior a 65 mil pessoas. A arena do Palmeiras, que deve começar sua obra em breve e já conta com parceiro privado, é a principal. O Pacaembu corre por fora.
17- O Corinthians pode se beneficiar com 2014 ?
Sim. Andres Sanchez é muito próximo a Ricardo Teixeira. Mas o clube estuda três possibilidade de erguer seu estádio. Em Itaquera; em Guarulhos, com financiamento do banco Banif; e em Pirituba. Neste caso, o clube teria que encontrar, junto à Prefeitura, um parceiro privado.
18- Qual é a vantagem de sediar a abertura da Copa?
Receber o Congresso da Fifa e mais negócios e turistas que qualquer outra sede do Mundial.
19- Por que Belo Horizonte é azarão na corrida pelo jogo inaugural de 2014?
Porque a cidade possui um número insuficiente de hotéis para o evento. E esse é um problema difícil de ser contornado pois talvez não haja interesse do setor privado em construir hotéis, que, após o Mundial, ficarão ociosos.
20- Por que Belo Horizonte continua no páreo?
Porque o ex-governador de Minas Aécio Neves (PSDB) é amigo pessoal de Ricardo Teixeira. O novo Mineirão, orçado em R$ 426 milhões, já foi aprovado pela Fifa e tem garantias financeiras.
21- Brasília tem problemas para sediar a abertura?
Sim. Após o governador José Roberto Arruda ter sido cassado, o governo do DF passou por turbulências que enfraqueceram a candidatura. Mas o projeto do Mané Garrincha impressiona o comitê: custa R$ 702 milhões e é o mais caro entre todos de 2014.
22- O Rio também concorre à sede da abertura?
Oficialmente, não. Mas políticos de SP, DF e MG sabem que, se não apresentarem um bom projeto para abertura, o Rio pode se transformar numa solução.
23- Por que o Comitê 2014 não anuncia logo qual cidade será a sede da abertura?
Isso só será anunciado em 2011, após as eleições para presidente.
24- Esse atraso no anúncio afeta o cronograma?
Talvez sim. A cidade escolhida para sediar a abertura terá só dois anos para se preparar para a Copa das Confederações.
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