Como um apaixonado pelo futebol, muitos já tentaram me fazer “desistir” desse amor insano e incontrolável. Para eles, o esporte bretão pode ser uma futilidade, esquema de lavagem de dinheiro, exploração, ópio do povo ou simplesmente um esporte, algo que não deva ser levado tão a sério. Combato essa tese com algo que aprendi desde os meus quatro anos de idade, quando assisti o meu primeiro jogo de futebol e me apaixonei, momento este que não esquecerei jamais. O futebol não é só um mero esporte de 22 marmanjos correndo atrás da bola. É uma extensão de nossa sociedade, valores e cultura. Duvida?
Pegaremos como exemplo o racismo, tema recorrente na sociedade no último século e que ganhou uma “roupagem” diferente na última década com a internet e as mídias sociais, onde muitos acham que podem falar o que quiserem por estarem de frente ao computador apenas. A mesma tecnologia que mudou o mundo teve forte impacto no futebol. Tudo (ou quase) que é dito e feito dentro das famigeradas quatro linhas ganham extensão no mundo globalizado e é amplamente discutido no mundo virtual.
No futebol sempre foi comum haver casos de racismo e outros tipos de preconceitos imbecis em campo. Mas comum não quer dizer aceitável. Nos últimos anos, esse tipo de provocação muitas vezes defendida com o estúpido argumento de “o que se faz dentro de campo deve ficar dentro de campo” ou “provocações são normais em um jogo e ninguém deve se ofender com isso” virou assunto de debate em mesas redondas esportivas, conversas de boteco e análises pessoais na internet. Em outras épocas, jogadores negros não podiam defender grandes times, eram arremessadas bananas em campo, imitações de macacos eram feitas nas arquibancadas e tantas outras coisas mais. Muitos achavam que era “coisa do jogo”. Mas a mentalidade, felizmente, mudou com o passar do tempo na sociedade. Para alguns, pelo menos.
Em termos mais atuais, racismo virou caso de polícia em campos de futebol. Grafite, ex-São Paulo, levou o adversário zagueiro argentino De Sábato para a delegacia após ser chamado de macaco em um jogo da Taça Libertadores da América de 2005. Incrivelmente, houve jogadores e torcedores na época que acharam um exagero por parte do atacante brasileiro. Afinal de contas, “era coisa do jogo”. Desde então, o debate ficou mais acirrado. Insinuações racistas se tornaram corriqueiras nas Américas e Europa.
O caso polêmico mais recente aconteceu na Inglaterra, em jogo entre Manchester United e Liverpool. O atacante uruguaio Luiz Suárez disse para o lateral francês Patrice Evra, após um carrinho duro do avante do Liverpool, que bateu nele pois este era negro. Logo após, Evra tentou pedir uma explicação. Suárez respondeu que “não conversava com negros”. O lateral do Manchester denunciou o caso e Suaréz foi suspenso por oito partidas. No reencontro entre os dois jogadores, neste sábado (11), o uruguaio se recusou a apertar a mão de Evra antes do jogo. O clima esquentou em campo e o Manchester ganhou por 2 a 1. Após a partida, Suárez emitiu uma nota no site oficial do Liverpool pedindo desculpas pelo ato e se dizendo arrependido. Será que é o bastante?
No Brasil, imitações de macaco em campo (como da torcida do Santos em jogo contra o Flamengo em 2011), ofensas homofóbicas e tantas outras manifestações de preconceito acontecem e pouca gente dá atenção. Ou pior, colaboram com isso. Afinal de contas, para eles, “isso é normal, coisa do futebol, provocação saudável”. Mas são os mesmo tipos de provocações que levam torcedores a se matarem simplesmente por usarem camisas diferentes. Em termos de respeito com o ser humano no futebol, nossa sociedade pentacampeã está rebaixada para a segunda divisão perto da Inglaterra e outros países que tratam estes assuntos com a seriedade merecida.
O futebol é uma extensão de nossa sociedade e de nós mesmos.
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