quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Rijkaard, a calma e o furacão





Reportagem feita pelo Fifa.com

Numa analogia com o mundo da música, poderíamos dizer que no futebol existem dois tipos de jogadores: os chamados "carregadores de piano", incansáveis no trabalho de marcação e recuperação da bola, e os "maestros" que ditam o ritmo dos seus times e garantem o espetáculo para o torcedor. Franklin Edmundo Rijkaard, porém, demonstrou durante toda a sua exemplar carreira nos gramados que um futebolista pode ser igualmente eficaz nas duas funções.

Defensor implacável e autor de muitos gols como meia de ligação, o jogador revelado pelo Ajax se tornou a grande referência do Milan de Arrigo Sacchi e da seleção holandesa que voltou à Copa do Mundo da FIFA nas edições de 1990 e 1994. Trabalhando agora como técnico, Rijkaard conserva a esperança inconfessa de retornar à festa máxima do futebol mundial, que não lhe sorriu em duas participações como atleta.

Das ruas para o Ajax
Rijkaard nasceu no dia 30 de setembro de 1962 em Amsterdã, menos de um mês depois que um certo Ruud Gullit veio ao mundo no mesmo bairro de Jordan. Coincidência ou não, ambos viriam a alcançar muitas glórias jogando lado a lado com a camisa de clubes e da Laranja Mecânica. Outro ponto em comum é que os pais dos dois jogadores são originários do Suriname. O de Rijkaard chegou à Holanda na década de 1950.

Os dois garotos se conheceram por acaso jogando bola nas ruas da capital e chegaram a atuar juntos no modesto DWS, time do bairro. Impondo respeito no setor defensivo pelo porte físico avantajado e pelo talento nas divididas, Rijkaard acabou chamando a atenção do então técnico do Ajax, Leo Beenhakker, que o levou para o clube. Ele estreou na equipe principal aos 17 anos em 1980, na vitória contra o Go Ahead Eagles por 4 a 2, partida em que marcou o seu primeiro gol no Campeonato Holandês.

Instalado no miolo de zaga por Beenhakker, Rijkaard conservou a posição sob o comando de Kurt Linder, Aad de Mos e na primeira temporada de Johan Cruyff à frente do time. Verdadeiro xerife da defesa, ele teve um papel preponderante na conquista de sete títulos entre 1980 e 1987, sagrando-se campeão nacional em três oportunidades e vencendo uma Recopa Europeia.

Trio mágico
No entanto, a chegada de Cruyff ao banco do Ajax acabaria provocando desavenças entre os dois ídolos de personalidade igualmente forte. Decidido a deixar o clube, Rijkaard se transferiu para o Sporting português e foi emprestado ao Zaragoza antes de ser contratado pelo Milan, onde reencontrou o amigo Gullit e o também holandês Marco van Basten. Sob a batuta de Sacchi, passou a jogar no meio-campo ao lado de Gullit, Carlo Ancelotti e Demetrio Albertini.

Para executar o projeto, porém, o técnico precisou batalhar firme com a diretoria a fim de impor a escolha de Rijkaard como terceiro atleta estrangeiro do clube. À época, o presidente Silvio Berlusconi estava mais interessado no argentino Claudio Borghi.

Mas o dirigente não se arrependeria por dar ouvidos ao treinador. A bagagem técnica, a inteligência tática, a força física e, principalmente, a surpreendente elegância de Rijkaard para um jogador de 1,90 m de altura logo sacudiram o Estádio San Siro, em cujos bastidores recebeu o apelido de "furacão". Ao futebol ofensivo e vistoso da escola holandesa, Rijkaard acrescentava o rigor defensivo e a objetividade italiana.

Além disso, ele costumava subir para apoiar o ataque — e não somente nas cobranças de falta, com as quais causava sérios problemas às defesas adversárias. Foi numa dessas subidas que ele marcou o gol do título milanista na Copa dos Campeões da Europa de 1990, contra o Benfica. E enquanto os Rossoneri à holandesa dominavam o Velho Continente, o trio batavo monopolizou a votação da Bola de Ouro em 1988 e quase repetiu o desempenho no ano seguinte, com o capitão Franco Baresi interpondo-se entre Van Basten e Rijkaard.

Um final feliz
Mas a decisão continental de 1993, perdida diante do Olympique de Marselha pelo placar mínimo, selaria o término daquela era gloriosa. Gullit deixou o Milan, Van Basten foi obrigado a pendurar as chuteiras em função de repetidas lesões e Rijkaard voltou ao Ajax como zagueiro, desta vez a serviço do técnico Louis van Gaal. Em 1995, para coroar a carreira, foi campeão europeu pela terceira vez dando o passe para o gol de Patrick Kluivert na final contra o Milan — difícil imaginar um final mais feliz para a sua carreira dentro das quatro linhas.

Com a seleção da Holanda, porém, apesar do grande elenco, Rijkaard faturou menos troféus. Ainda assim, foi titular da esquadra laranja na campanha do título europeu de 1988 — o único triunfo internacional da história do país, conquistado diante da União Soviética. À época, Rijkaard formava a dupla de zaga ao lado de Ronald Koeman. Por ironia do destino, a estreia dele com o uniforme holandês havia acontecido no dia 1º de setembro de 1981, entrando no lugar de Gullit no segundo tempo contra a Suíça em Roterdã.

Em 73 partidas pelo país entre 1981 e 1994, ele marcou dez gols, disputou a Copa do Mundo da FIFA duas vezes e uma segunda Eurocopa em 1992. Nas três ocasiões, a Holanda acabou sendo eliminada pelo futuro campeão do torneio. Rijkaard se despediu do selecionado após a derrota por 3 a 2 para o Brasil nas quartas de final dos EUA 1994.

A carreira como treinador só veio confirmar aquilo que Rijkaard foi dentro de campo: uma bem-sucedida mistura entre objetividade e elegância. "O Frank encontrou o equilíbrio entre a plasticidade e a eficiência", afirmou Cruyff, que lhe abriu as portas do Barcelona. "Assim como eu, ele sabe que a soma de talentos individuais não serve para nada se os jogadores alinhados em campo não pensam no coletivo. É um homem por quem tenho enorme estima." Depois de se sagrar bicampeão espanhol e de vencer a Liga dos Campeões, Rijkaard deixou o clube catalão ao final da temporada 2007/08 para dar lugar a Pep Guardiola — outro especialista em carregar piano e jogar por música.

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